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Por que as zoonoses são ignoradas?

por Roberto Amaral

As zoonoses são doenças comuns a homens e animais. Mas, no Brasil, ainda falta amadurecimento nas ações de saúde pública, especialmente de multidisciplinaridade profissional, para combatê-las com a mesma competência dos países desenvolvidos.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 75% das doenças de interesse epidemiológico no mundo são zoonoses. No entanto, o desafio para os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos está no diagnóstico das mesmas, pois geralmente costumam identificar determinadas doenças com termos inespecíficos (viroses, artrites, aborto espontâneo etc.), prejudicando as estatísticas e o planejamento para o devido combate. Por esta razão, os dados de muitas zoonoses nos Estados Unidos e Europa são bastante diferentes daqueles registros oficiais do SUS brasileiro.

Quando se fala de toxinfecção alimentar, por exemplo, há registros nacionais que beiram o ridículo na lógica epidemiológica internacional.

São inúmeros exemplos, ao longo da história, de zoonoses cuja estratégia de ação em saúde pública foge de foco; mas há um fato muito interessante.

Todos sabem do terror que é a dengue e dos esforços direcionados para combater o mosquito transmissor Aedes aegypti. Mas com certeza poucas pessoas ouviram falar do mosquito Lutzomyia longipalpis, o que ele transmite e como combatê-lo. Pois é, esse mosquito de nome também esquisito é transmissor de uma “doença de cachorro” chamada leishmaniose, e que muitos humanos não dão a devida atenção. Quer saber o que houve?

Mesmo com tantas dificuldades de informação, precariedade nos atendimentos, erros de diagnósticos etc., os números apontam que essa doença matou mais humanos que a dengue em nove estados do Brasil nos últimos treze anos. Imagine como será quando um dia tivermos eficiência no diagnóstico das zoonoses. Certamente você conhece alguém que passou mal devido a dengue, mas não sabe quase nada sobre alguém que teve leishmaniose. No entanto, a doença realmente estava lá, talvez muito perto de você.

A história do Tatu também é muito interessante:

Uma matéria publicada no Brsil247 retrata muito bem essa fragilidade brasileira ao lidar com zoonoses. Diz o seguinte:

“Uma pesquisa desenvolvida nos Estados Unidos, pelo pesquisador Richard W. Truman, comprovou que cerca de um terço dos casos de hanseníase que aparecem a cada ano nos EUA é resultado do contato com tatus infectados.”  Fizeram uma pesquisa no Brasil e: “…um estudo semelhante foi realizado no Espírito Santo e mais de 90% dos casos analisados na rede hospitalar no Estado estavam relacionados à manipulação do tatu.” Mas esta realidade, na prática, parece ser ignorada no país, onde a caça e o consumo de Tatu é comum nas áreas rurais; cuja carne, muito apreciada, é comercializada para diversos lugares urbanos.

Recentemente, depois de deixar as comunidades em polvorosa, no estado do Piauí foram finalmente identificados mais de cem casos de micose pulmonar em quarenta municípios, cuja conclusão da investigação epidemiológica também apontou para a prática da caça ao Tatu e do seu consumo. Como é complicado esse Tatu, hein?!

Enfim, como diz a frase clássica do personagem Hamlet: “há muito mais coisas entre o céu e a terra, do que possa imaginar vossa vã filosofia”.

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