No combate ao mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, a melhor arma é a informação. Cientes disso, virologistas e entomologistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) se aliaram a cerca de 150 gestores do Exército Brasileiro que atuam no combate ao Aedes aegypti em Organizações Militares (OMs).
Durante a “1ª Jornada Sobre Combate ao Aedes aegypti”, promovida pelo Instituto de Biologia do Exército (IBEx), os especialistas do IOC/Fiocruz trocaram experiências com os militares sobre a importância das ações de prevenção, características dos vírus e o procedimento para o diagnóstico laboratorial dessas doenças. O encontro foi realizado na última quinta-feira (28), na Escola de Sargentos de Logística, no bairro de Deodoro, zona norte do Rio de Janeiro.
“Reunimos pesquisadores de diferentes áreas de estudo com acesso às mais atualizadas informações sobre o comportamento do mosquito, a dinâmica dos vírus e a interação com a população. O objetivo é transformar os representantes de várias unidades militares em multiplicadores de conhecimento”, destacou o pesquisador José Bento Pereira Lima, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC/Fiocruz e um dos organizadores da iniciativa.
Prevenção
Sete a dez dias é o tempo que o mosquito Aedes aegypti leva para se desenvolver de ovo à fase adulta, passando pelos estágios de larva e pupa. Esses e outros aspectos do inseto foram apresentados por Pereira Lima. O especialista, que colaborou para o desenvolvimento do conceito da campanha 10 Minutos Contra o Aedes, explicou em detalhes como funciona o processo e mostrou como é possível interromper esse ciclo.
“A prevenção é a estratégia ideal para evitar a proliferação do mosquito. Mas, para isso, é necessário o engajamento da população na vistoria semanal dos principais criadouros presentes no ambiente doméstico, como vasos de planta, ralos, pneus, bandejas de ar-condicionado, dentre outros objetos e espaços que possam acumular água. Dez minutos por semana é o suficiente”, ressaltou.
Diagnóstico
Febre, manchas vermelhas, dores no corpo: a semelhança entre os sintomas relatados pelos pacientes infectados por dengue, zika ou chikungunya dificulta a realização de um diagnóstico clínico preciso. Para explicar esse contexto, a pesquisadora Flávia Barreto, do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz, apresentou as características gerais dos vírus e ressaltou a importância do diagnóstico laboratorial.
“Atualmente, não há uma vacina de larga escala que proteja a população contra esses agravos, além disso, controlar o vetor ainda é uma dificuldade. Nesse contexto, a identificação do tipo de vírus circulante, possível por meio do diagnóstico laboratorial é um diferencial”, destacou.
Segundo a pesquisadora, diferentes técnicas são capazes de verificar a infecção por um patógeno, dentre elas, o isolamento viral, que pode ser realizado por meio do cultivo de células; os métodos moleculares, cujo reconhecimento depende da ampliação de trechos do DNA do vírus (técnica chamada de PCR); e a detecção de anticorpos – exames de sorologia que sinalizam a passagem do vírus pelo organismo. “Os dados adquiridos a partir desses tipos de diagnóstico permitem a prescrição do tratamento adequado e ampliam o conhecimento da epidemiologia e da circulação dos vírus em uma localidade”, concluiu.
Alternativas
Além da prevenção e do conhecimento, o combate ao Aedes aegypti conta com estratégias alternativas de controle e monitoramento. A doutoranda do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária e do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC/Fiocruz, Gabriela Azambuja, apresentou uma dessas iniciativas: o Projeto “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil”, trazido ao País pela Fiocruz, que estuda o uso da bactéria Wolbachia como forma de reduzir a transmissão dos vírus dengue e chikungunya. Recentemente, também foi demonstrado que a Wolbachia pode reduzir a transmissão do zika vírus.
Gabriela explicou que, quando presente no Aedes, a Wolbachia reduz a capacidade do mosquito em transmitir o vírus. “É uma estratégia natural, por utilizar uma bactéria presente em cerca de 60% dos insetos e, ao mesmo tempo, segura – a Wolbachia permanece restrita ao interior das células, sendo encontrada apenas em invertebrados – e autossustentável, uma vez que a bactéria é transmitida da mãe para os filhotes, evitando a necessidade de solturas permanentes”, explicou.
Diante dos altos índices de infestação de Aedes no País, Pereira Limaapontou para a necessidade de desenvolvimento de métodos de vigilância eficientes, baratos e facilmente aplicáveis por agentes de saúde. Segundo ele, o uso de armadilhas para capturar insetos é a melhor estratégia.
“Fizemos um estudo em que foram avaliadas várias armadilhas disponíveis no mercado com potencial de estimar a população adulta de Aedes aegypti. Verificamos que todas apresentaram desempenho superior aos índices de larvas, conhecido como LIRAa”, explicou o pesquisador, ressaltando ainda a importância do trabalho dos agentes. “A adoção de qualquer armadilha na rotina da vigilância entomológica depende de capacitação prévia e avaliação continuada dos profissionais”, completou.
Para Lima, a jornada abre espaço para novas iniciativas. “A ideia é criar, futuramente, brigadas nas Organizações Militares que poderão atuar no monitoramento e controle de focos do Aedes aegypti. Será necessário realizar um treinamento ampliado para essas ações e o conhecimento inicial adquirido aqui vai ser fundamental para essa ação”, concluiu.
Fonte: Portal Brasil e Fiocruz
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